terça-feira, 14 de setembro de 2010

Terapia do luto

Confesso que nunca tinha ouvido falar sobre essa terapia. Mas depois de assistir uma entrevista da atriz Cissa Guimarães, que perdeu seu filho recentemente, e está fazendo a terapia, achei interessante dividir com vocês.
Vivenciamos, ao longo da vida, uma série de perdas que fazem parte do ciclo de vida. Existem algumas que são mais difíceis de serem aceitas e elaboradas. A morte de um membro da família ou de uma pessoa muito especial, por exemplo, pode interferir de maneira paralisante na vida das pessoas.
Morte súbita ou violenta, quando perdemos um ente querido de maneira inesperada; perda ambígua, quando a mesma não é definida, não há um fechamento para que possa fazer o luto (exemplos: pessoas desaparecidas, separação de um casal etc.); morte de um filho ainda criança; e suicídio, no qual a vergonha e a culpa assolam toda a família são situações de grande dor, pesar e tristeza, que podem se tornar disfuncionais quando o luto é bloqueado, afetando, assim, toda a rotina familiar e de cada membro, que passa a ter dificuldade de aceitação e assimilação.
Quando a dor é congelada, os relacionamentos se tornam rígidos, a família se isola, os sentimentos são bloqueados por diversas formas de negação ou fugas e o tempo para - seja em sonhos do passado, em emoções do presente ou no medo do futuro. Outra indicação de negação é a falta de disposição para realizar mudanças após a perda. Com frequência surge depressão, ansiedade e vários tipos de enfermidades somáticas.
Nesse momento passa a existir um silêncio entre os familiares. Tocar no assunto representa tocar numa ferida muito dolorosa. Isso, por sua vez, acarreta mais sofrimento, fazendo com que cada membro vivencie a sua dor de uma maneira solitária, e passe a viver o não-dito, ocasionando a paralisação da vida, vista como um grande peso a ser carregado.
O objetivo da terapia do luto é reverter, junto à família ou ao membro interessado, todo esse contexto. O reconhecimento comum da realidade da morte entre os familiares, normalizando a perda e diminuindo a sensação de mistificação são pontos relevantes do tratamento, que busca estimular a família a aprender sobre a morte e a encarar sua reação e a dos outros frente a ela.
Quando os fatos a respeito do óbito não são admitidos, um terapeuta pode facilitar seu aprendizado e aceitação da realidade ajudando a compartilhar o legado emocional da perda como o luto, a dor, a raiva, a tristeza e a saudade da pessoa que se foi. Além disso, ele pode compartilhar as histórias contadas conjuntamente sobre a vida e a morte da pessoa, ajudando a integrar a experiência da perda em suas vidas, promovendo seu sentido de continuidade e de conexão familiar.
Reorganizar o sistema familiar ajuda a família a completar as tarefas adaptativas de reorganização sem a pessoa que faleceu, e isso envolve mudanças de papéis, de funções e de liderança.
O reinvestimento em outros relacionamentos e projetos de vida, transformando a dor e o pesar em lembrança e saudade, faz com que as pessoas deem prosseguimento à vida, libertando-se de todo fardo, desparalizando-se.


Publicado na Revista Utilità Recreio em Setembro/2009, edição #0.

Um comentário:

Betty blue disse...

Mais uns diazinhos e a tão esperada primavera chega, e com ela o perfume das flores e o bailar dos pássaros a nos alegrar. Ofereço-te o selo Primavera ( está em Diversos). Beijo da blue