domingo, 15 de março de 2015

Não deixe para amanhã

Nada de colocar no fim da fila tarefas importantes, que podem atrasar a vida, comprometer sua produtividade, imagem e até sua realização pessoal

Procrastinar. A palavra é diferente, pouco usada no cotidiano e quando ouvida pode até causar estranhamento. No entanto, acredite: você e a ação sugerida por esse verbo são velhos conhecidos. Até muito íntimas, se bobear! Segundo os dicionários, procrastinar significa atrasar, demorar, adiar, postergar, protelar, ou seja, dar aquela empurradinha básica com a barriga em algo que você não está a fim de fazer agora. Aí vêm as frases clássicas: “daqui a pouco eu faço”, “deixa para amanhã”, “ainda tem tempo”...

Uma pesquisa realizada pela Triad Productivity Solutions, empresa multinacional especializada em produtividade e administração do tempo, perguntou a 4.012 pessoas de 22 estados brasileiros: “Você procrastina atividades ao longo de sua rotina?”. O resultado foi surpreendente: 97,4% das pessoas afirmaram que sim. “Todo mundo procrastina, pois é da nossa natureza. Ninguém funciona como um robô, programado para fazer tudo na hora certa”, garante Christian Barbosa, fundador da Triad e um dos maiores especialistas sobre o tema no País.

Duvida que todos temos esse traço na nossa personalidade? Pois saiba que tem gente que procrastina antes mesmo de levantar da cama. Isso graças à invenção do botão soneca, que proporciona mais cinco minutinhos de sono, depois mais cinco, depois mais cinco, até que, quando percebe, já perdeu a hora do trabalho! Uma das facilidades do mundo moderno que, se não for usada com responsabilidade, pode trazer muitos prejuízos aos seus adeptos.

Junto às redes sociais, aos e-mails e à internet, de modo geral, essa função representa parte do que os especialistas chamam de ladrões do tempo. Você começa com um clique e quando vê, já está há bastante tempo navegando, se distraindo e, consequentemente, postergando outras atividades muito mais importantes e construtivas.

O perigo real

Depois de ler estas linhas você pode ter ficado um pouco assustada, achando que não tem mais o direito de dar-se um tempo diante de determinadas tarefas, como lavar a louça acumulada na pia ou terminar de ler aquele romance que está há meses sobre a cabeceira da sua cama... Calma lá, não é bem por aí!

Nos dias de hoje, quando a vida, profissional ou privada, exige tanto de nós e o tempo parece cada vez mais escasso, então é normal que algumas coisas sejam transferidas para depois. “Viver com um pouco de flexibilidade é preciso e saudável. Mas ter disciplina e fazer o que deve ser feito também é. Então, o comportamento começa a se tornar um problema quando é constantemente repetido e impõe à pessoa uma desorganização muito grande”, diz o médico e psicoterapeuta Geraldo Possendoro, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Em seu livro A Equação de Deixar para Depois (Ed. Best Seller), o psicólogo e pesquisador americano Piers Steel explica que procrastinar não se trata de um atraso qualquer, mas um atraso irracional. Significa que quando voluntariamente adiamos a realização de uma tarefa, mesmo sabendo que com isso nossa situação irá piorar, estamos atuando contra nossos principais interesses, que deveriam ser priorizados. É o caso da pessoa que atrasa o pagamento das contas e vive pagando juros, deixa os trabalhos acadêmicos para a última hora e não conta com tempo hábil para reunir um bom material, adia repetidamente os check-ups e consultas médicas desprezando a importância da sua saúde e bem-estar, e daí por diante...

E tem gente que diz que faz isso de propósito, como se gostasse de viver perigosamente. Segundo elas, ao realizar uma tarefa nos 45 minutos do segundo tempo sentem-se mais motivadas e têm um desempenho mais satisfatório. Para alguns, até pode ser verdade. Mas na maioria dos casos o risco é muito grande. “Quando a pessoa não conta com um respiro para realizar uma tarefa e tem que fazê-la às pressas, precisa admitir a possibilidade de que algo pode dar errado e não haverá como reverter, pois o prazo já terá se esgotado”, diz Fernando Serra, diretor da HSM School of Management, especializada em estratégia, e autor do livro O Tempo na Sua Vida (Ed. Saraiva).

E as consequências podem ir além. “O ato de reproduzir erros porque deixou alguma tarefa para última hora pode comprometer o nível de confiança e tolerância de outras pessoas com o procrastinador. Isso ocorre principalmente no ambiente corporativo, onde as cobranças são mais evidentes”, completa a psicóloga Lizandra Arita (SP).

Pesquisas americanas apontam que quem trabalha com o computador se distrai pelo menos uma vez a cada 10,5 minutos. Por ano, são perdidas, em média, 546 horas com interrupções e distrações. Um jeitinho disfarçado de ir protelando as tarefas importantes, enquanto checa e-mails pessoais, blogs, sites, redes sociais...

O que está por trás disso?

Mas se no fundo já sabemos que protelar uma atividade pode atrapalhar e atrasar a nossa vida, por que será que, ainda assim, fazemos isso com tanta frequência? Christian Barbosa levantou em suas pesquisas os principais fatores desencadeantes desse comportamento.

O primeiro deles é a desculpa da falta de tempo. Na maioria dos casos, o problema não está na insuficiência das 24 horas que temos todos os dias, mas na falta de habilidade para dividir bem o tempo e usar uma boa fatia dele tocando as prioridades da vida.

A segunda causa vai um pouco mais a fundo na questão emocional: trata-se da impulsividade. “Nesse cenário entram diversas questões: o ímpeto de adiar uma tarefa que pede muita responsabilidade e tomada de decisões, por exemplo. Ao deixar para depois, o procrastinador afasta temporariamente a sensação de incômodo e de pressão. É uma espécie de anestesia”, destaca Lizandra.

Mas isso não quer dizer que o “problema” vá sumir ou se resolver sozinho. Pelo contrário: o feitiço pode virar contra o feiticeiro! Muitas vezes, a pessoa acaba ainda mais ansiosa e angustiada ao ficar protelando uma decisão ou ação importante. Sem contar o fato de que o assunto pode ir se complicando, tomando proporções maiores, como uma verdadeira bola de neve. Ou seja, mal negócio!

Outro ponto merece destaque no item impulsividade: temos dificuldade em abdicar de uma atividade prazerosa em nome de algo tedioso, complicado ou que não cause bem-estar imediato. É como um ringue onde nossos desejos e as nossas necessidades entramem combate. Nemé preciso dizer quem sai ganhando quando a pessoa tem tendência a procrastinar, não é mesmo?

Enfrentando o problema

Os especialistas são unânimes em apontar: o melhor antídoto contra a procrastinação é uma dose de disciplina. Reverter esse quadro pode parecer complicado. Mas, confie: não é impossível! Para ajudá-la nessa empreitada reunimos dicas valiosas.

1. Estabeleça prazos para finalizar suas tarefas

E mais do que isso, procure ser fiel a eles! Isso ajuda a educar o cérebro, mostrando que as coisas têm um período determinado para serem cumpridas.

2. Todos os dias, faça uma lista do que você TEM que realizar

Mas não exagere na dose, senão, vai sempre deixar muitas pendências e isso pode ser desmotivador. Eleja cinco ou seis tarefas importantes para o dia.

3. Experimente começar o dia fazendo coisas menores

Essa é uma boa tática para ir aquecendo os motores e garante mais motivação à medida que você vai riscando itens (já concluídos) da sua listinha.

4. Programe pequenas pausas para melhorar sua produtividade

No método Pomodoro, uma técnica de administração do tempo, por exemplo, é a pessoa trabalhar 25 minutos contínuos e, então, pode fazer uma pausa de 5 minutinhos para relaxar, ver o Facebook, o que preferir... A cada quatro Pomodoros (períodos de 25 minutos) o intervalo é maior: de15 a20 minutos. Você mesmo pode determinar seus  períodos de trabalho e descanso. Basta ter bom senso.

5. Pense à frente

Em vez de focar apenas no desprazer que a atividade proporciona – o que dispara o desejo de adiá-la –, mentalize os benefícios que sua conclusão lhe trará. Pode ser mais tempo livre para fazer o que gosta ou o prazer de se livrar de um assunto burocrático, como a declaração do imposto de renda, por exemplo. Vai dizer que isso não é animador?

6. Combata o perfeccionismo

Muitas vezes, protelamos uma tarefa por querer realizá-la com uma perfeição inatingível. Isso ocorre principalmente quando sentimos uma grande necessidade de agradar às outras pessoas. O ideal é fazer o melhor que puder, dentro do prazo, do que não fazer por medo de desagradar e acabar deixando a sensação de irresponsabilidade.

7. Inclua compromissos pessoais na sua lista de tarefas

Eles parecem (e também devem ser!) prioridades em nossa vida, mas como é mais difícil nos cobrarem nessa área do que no campo profissional, por exemplo, acabamos negligenciando os assuntos particulares.

8. Transforme seus sonhos e necessidades em metas 

Para isso, planeje, escreva sobre elas, monte um mural com imagens e informações que a mantenham sempre em contato com tal desejo. Quanto mais palpável e objetivo se apresenta, maiores as chances de concluí-lo. Se ele fica muito subjetivo, vago e parece apenas uma intenção, como viajar para o exterior ou aprender inglês um dia, mais tendemos a empurrá-lo para a frente.

Revista Anamaria

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