domingo, 7 de julho de 2013

Era do smartphone reduz contato olho no olho

Você está conversando com uma pessoa, de repente, ela olha para o celular ou para alguém.

Isso parece estar acontecendo mais do que nunca - em reuniões de trabalho, na mesa do jantar e até mesmo em festas íntimas - e há indícios de que o declínio do contato olho no olho é um problema crescente.
 
Adultos mantêm contato olho no olho entre 30% e 60% do tempo, em média, durante uma conversa, diz a empresa de análises de comunicação Quantified Impressions. Mas a companhia texana diz que as pessoas deveriam olhar nos olhos das outras entre 60% e 70% do tempo para criar uma sensação de conexão emocional, de acordo com a análise de 3.000 pessoas durante conversas individuais ou em grupos.
 
Uma barreira para o contato é o uso constante de dispositivos móveis para executar diversas tarefas simultaneamente. Entre os jovens na faixa dos vinte anos, "quase se tornou culturalmente aceitável atender o telefone durante o jantar ou checar o resultado de partidas esportivas", diz Noah Zandan, diretor-presidente da Quantified Impressions.
 
Alguns psicólogos dizem que as pessoas têm "medo de estar perdendo algo" em termos de oportunidades sociais, diz um estudo publicado este ano pelo "Computers in Human Behavior".
 
Por causa da tendência de trabalhar de casa ou outros tipos de trabalho remoto, as pessoas se acostumaram a falar sem manter contato olho no olho, diz Dana Brownlee, fundadora da Profes-sionalism Matters, uma empresa de preparação de executivos em Atlanta.

Ela cita um gerente de uma empresa de serviços financeiros que começou a oferecer prêmios para estimular sua equipe a fazer reuniões cara a cara. "As pessoas estavam fazendo teleconferências de baias que estavam apenas a alguns passos uma da outra," diz Brownlee.

O contato olho no olho, no entanto, pode ser uma ferramenta para influenciar os outros. Olhar para um colega quando se fala transmite confiança e respeito. Um olhar prolongado durante um debate ou discordância pode sinalizar que você mantém firmeza quanto à sua opinião. Ele também indica a sua posição na organização. As pessoas em posições importantes tendem a olhar por mais tempo para com quem estão falando em comparação com os outros, segundo a análise de um estudo publicado pela "Image and Vision Computing" em 2009.

Quando as pessoas não mantêm contato olho no olho por descuido ou desrespeito, elas enviam mensagens bastante claras e indesejáveis. Suzanne Bates, autora do livro "Speak Like a CEO" (Fale como um Diretor-presidente, em tradução livre), já treinou executivos que checam seus smartphones tantas vezes durante reuniões que "é o mesmo que não estar presente por metade da reunião", diz ela. A mensagem dada aos funcionários é que eles não são importantes e normalmente eles se ressentem, diz Bates, diretora-presidente da Bates Communications, empresa de Massachussets.

O olho no olho funciona melhor por sete a dez segundos numa conversa entre duas pessoas e por três a cinco segundos em grupos, diz Ben Decker, diretor-presidente da Decker Communications, uma empresa de preparação de executivos e consultoria baseada em San Francisco. Decker, cuja empresa tem 34 anos, diz que as pessoas que desviam o olhar muito rápido ou evitam completamente o contato olho no olho são vistas como "pessoas não-confiáveis, sem conhecimento e nervosas". Alguém que fala para um grupo precisa olhar para vários ouvintes para que ninguém se sinta deixado de fora.

Quando a treinadora de vendas Lisa Contini buscou a consultoria de Decker para melhorar suas habilidades de comunicação, descobriu que o contato olho no olho era a peça importante do quebra-cabeças. Ela costumava abaixar ou fechar os olhos durante as conversas. "Eu estava fazendo uma pausa para pensar o que eu queria dizer, mas isso estava dando a impressão que eu não sabia o que ia falar", diz. Quando ela baixou o olhar para pensar durante um desentendimento com um colega em uma reunião, anos atrás, o colega presumiu que ela estava insegura e atacou ainda mais forte, recorda Contini.

Mais tarde, outro participante da reunião criticou seu desvio de olhar, dizendo: "Parecia que você estava duvidando de você mesma e isso o fez sentir que estava certo", diz ela. Com o treinamento de Decker, ela aprendeu a olhar as pessoas nos olhos mesmo quando se sente pressionada. Quando um outro colega a desafiou em uma reunião recente, ela respirou fundo e manteve seu olhar nos olhos do interlocutor enquanto questionava o argumento dele. Ele recuou, disse Contini, uma das fundadoras do Synergy Sales Training, da Califórnia.

A questão cultural também pesa. Em algumas culturas orientais e do Caribe, olhar nos olhos de uma pessoa pode ser considerado rude. Os asiáticos tendem mais do que os ocidentais a considerar uma pessoa que olha nos olhos do interlocutor de forma brava ou difícil, demonstrou um estudo recente na publicação científica on-line "Plos One".

Contato excessivo por meio dos olhos também pode causar problemas. No trabalho, mantendo o contato visual por mais de 10 segundos pode parecer agressivo, vazio ou pouco autêntico, diz Decker. Em um contexto social, pode ser visto como um sinal de interesse romântico ou simplesmente esquisito. No estudo "Applied Neuropsychology: Adult", publicado este ano, os cientistas descobriram que olhar fixamente nos olhos dos participantes do estudo enquanto aplicavam um teste os irritou tanto que o desempenho da memória deles foi prejudicado.

The Wall Street Journal

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